terça-feira, 19 de outubro de 2010

Muleques e a felicidade...

Hoje o dia foi dá hora!

Pelas conta, acho que cada um levatô uns 10 real! Cesinha tá contando ainda, mas tá sorrindo pra caralho!
Num consigo nem esperar pra saber quanto foi e poder ir comer alguma coisa, hoje a tarde foi longa... Resolvi parar com a cola, e ainda num sei como vou fazer quando os outro usar, mas é que tô querendo comprar um tênis, tamém tô com vontade de ver minha mãe... Será que a grana ajuda em tudo?

Cesinha terminou, deu 57,80!! Estamos em 6, quase 10 mesmo!

Cesinha é o mais velho, já tem 14 anos, e por causo disso ele cuida do dinheiro. A gente consegue dinheiro pedindo, vendendo bala, só as vez a gente toma.
Ai ele junta de todo mundo e depois divide tudo por 2, uma parte ele devolve pra gente, todo mundo ganha o mesmo tanto, a outra parte nois usa pra comer.

Ele diz que é o melhor, o irmão do Cesinha, que andava com a nois, nunca deixava nenhum conto separado pra comida, sempre gastava em cola e pedia pra gente o de comer, ai ele começou a usar crack, nem fome sentia mais...
Até que um dia a gente num viu mais ele na rua, depois um dono de loja falou que um pivete que andava com nois tinha morrido na frente da loja dele... Cesinha sempre lembra do irmão mais novo e da surra que tomou da mãe por não cuidar dele. Tem tanto moleque morrendo assim...

Na outra semana uns guarda-civil chegaram ni nois, o Cesinha falou pra nois correr, mas o Perola ficou com medo e num correu, apanhou demais, só porque tava com 10 conto no bolso e os guarda não acreditaram que era dele, acharam que ele tinha tomado de alguém, roubado... Até parece, quem roubou foi eles, que bateram nele e levaram o dinheiro embora, se a gente num volta e num socorre, ele tinha passado a noite toda machucado na calçada, ninguém liga prum “trombadinha” caído... Ele tem só 9 anos!

O pessoal da igreja às vezes ajuda, mas é zuado ficar no alojamento! Chatice de banho toda hora, horário pra chegar, reza e catecismo... A rua num pede nada pra nois, o que ela qué toma da gente e pronto, é só nois tentar ficar vivo que fica tudo bem.

Mas hoje... Hoje vai ter padaria, pão, tubaína, bolo... nois esquece a corrida pelas ruas com a barriga roncando, esquece os véio oferecendo dinheiro pra gente entrar nos carro deles, esquece a falta da cola, do crack, da maconha... Hoje vai ser só nois na padaria, a única família que nois tem, a única que a gente conhece, os meninos que andam juntos e aprende junto que felicidade é tão raro, que um pão, um bolo e um copo de tubaína podem ser as coisas mais alegres do mundo!

....

Sorte estar lá pra ver... Diante de tantas coisas complicadas, das conversas chatas que temos que ter, das coisas que fingimos entender, do tanto que a gente faz sem nem saber porque, os meninos sentados, rindo, zuando uns aos outros, falando errado, gritando palavrões (é o jeito deles, diria Mano Brown) faz a gente imaginar, mesmo sem ter coragem de saber a resposta: Será que poderia ser tão fácil quanto ficar feliz por comer bolo, pão e tomar tubaína?

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