sexta-feira, 29 de abril de 2011

Biografia Ficcional: Claudio (sem acento)

O seu nome é ignorável, embora se chame Claudio. Assim, sem acento mesmo.
Um homem comum, tão comum que chega a ser estranho.

Claudio tem todas as manias! Ele nem pode ouvir alguém contando uma mania que ele logo pega.
Os amigos brincam que ele é um “hipocondríaco” das manias, ele vê alguém evitando passar pela sombra de algum portão, ele logo passa a fazer igual, Claudio é uma esponja de manias!

Trabalha num banco, desses funcionários que, se você não é bancário, não sabe dizer o que faz. Ele não fica nos caixas, ele não atende junto aos gerentes... Diz algo sobre análise de crédito e eficiência gerencial. A verdade é que ele só está nisso porque ganha bem.

Dentre as milhares de manias de Claudio uma lhe causa especial embaraço. Ele não tem problema em usar o banheiro de outros lugares que não sejam a sua casa, pra ele tudo bem, o problema é que ele tem que sempre ir ao mesmo mictório ou privada que foi da primeira vez. Se ele vai num shopping e usa o banheiro, todas as vezes que for lá usará o mesmo banheiro (e dane-se qual lado do shopping ele vá depois, ele atravessa tudo se for preciso) e também o mesmo mictório ou privada.
Quantas vezes ele já não entrou no banheiro do banco, apertadíssimo, e mesmo tendo várias privadas vazias ele esperava desocuparem aquela que ele sempre vai. Ele já pensou em ir a um psicólogo ou terapeuta, mas sempre tem algum gasto que ele acha mais importante, como a fonoaudióloga do seu filho mais novo

Mas Claudio lida bem com isso, suas manias fazem parte de sua vida tão naturalmente que só quando alguém percebe uma nova ele se toca. Sua atual esposa (a primeira separou-se dele quando começou sua mania de dormir com 4 travesseiros e com a perna esquerda descoberta) evita comentar qualquer coisa sobre suas manias, pois ele tem tantas que as vezes esquece, é só ninguém comentar nada que ele abandona, assim, tão natural quanto quando ele adquire.

Claudio é desses caras que ouve muito, aliás pode até ser chamado de calado, mesmo sozinho no carro quando toca uma musica que ele gosta ele só ouve, nem fica balbuciando, até parece que ele não gosta da voz dele...

Na ultima semana Claudio estava tomando café quando ouviu alguém comentar isso “Claudio fala tão pouco que parece que nem gosta da voz dele.”

Claudio entrou em parafuso, sabe que não é isso, mas começa a evitar, mais ainda, falar, como se fosse mais uma de suas manias. Claudio passa a não falar...

No final de um domingo qualquer Claudio assistia seu filho brincar na rua, quando avistou um carro vindo, ainda estava com sua mania besta de não falar e por isso não gritou por seu filho, que foi atropelado pelo carro...

Claudio não era mais um cara comum, Claudio agora era um ser não funcional, internado continua sem falar e passa o dia escrevendo nas paredes e em qualquer papel que pega: “Olha o carro filho!”