sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Encontro às Escuras

Existem várias coisas que são hiper chatas que, algum dia em nossas vidas, faremos!

Tem coisas como renovar a carta de motorista, tirar título de eleitor, lavar o quintal... mas hoje vou me concentrar em uma que é ótima: Encontro às escuras!

Eu conheço várias histórias sobre encontro às escuras, quase todas engraçadas para quem ouve e tenebrosas para quem viveu.
Porque com a internet ai, Orkut, Facebook, msn, encontro às escuras não é mais tão às escuras, afinal você entra no Orkut ou Facebook da criatura e sabe o que vai encontrar pela frente, conversa com ela pelo msn e sabe que tipo de papo vai ter... mas ainda temos os encontros às escuras que são mesmo às escuras. Hoje ainda tem gente que não usa Orkut! Que não tem Twitter e jamais entendeu direito o que quer dizer Facebook! Estranhos...

Mas sempre tem aquela(e) amiga(o) da(o) namorada(o) do(a) seu(sua) amigo(a), que todo mundo fala que é legal e bonita(o).

Teve um desses assim que foi ótimo! Dois amigos, um “namorava”, a este daremos o nome fictício de Jão, e ao outro, solteiro, o nome de Zé.
Jão namorava Jade, e Jade tinha uma linda amiga chamada Serena. Jão então combina com Jade que vão promover o encontro, às escuras, entre Zé e Serena.
Ok! Marcam o dia, mas no dia marcado Zé tem um problema no trabalho e não poderá ir, bem em cima da hora, então liga para um 3º amigo, Conrado, para que este o substituísse no encontro, Conrado aceita, afinal já tinha ouvido falar de Serena.
No caminho, quando Conrado já está com Jão no carro, Jade liga e informa que Serena não vai mais, teve um probleminha em casa e ela chamou outra amiga, de nome Surpresa! Conrado já quer desistir! Jão convence ele que Jade não iria zuá-lo! Que a tal Surpresa deveria ser uma boa surpresa...
Obviamente que não era! Conrado se viu obrigado a ficar com a Surpresa, afinal encontro às escuras tem dessas obrigações, e outra, Conrado já estava lá, resolveu aproveitar a oportunidade.
Mas o problema de Conrado é que você pode sim ficar com uma mulher feia, contanto que ninguém saiba, mas os amigos souberam, e até hoje Conrado é chamado de Jorge de Capadócia!

Tenho um amigo que é da era do Bate-papo virtual, e lá conheceu uma tal de lindinha84, conversaram reservadamente e passaram a trocar e-mail. Ah, o nome dele era pimpo78.
Trocaram e-mails umas 2 semanas, mentiram demais, claro! Ele tem 1,76 de altura, e deve pesar uns 89 quilos, é no dizer de alguns: fofo!
Mas, se homem mente e conta vantagem até ao vivo, o que dirá por e-mail, então ele auto-descreveu-se com 1,85 e 85 quilos, um atleta!
Ele o fez porque ela se descreveu assim: “Ah querido, eu tenho 1,70 e 65 quilos... faço bastante academia.” Logo ele pensou: “Mentira!” E carregou nas cores na hora de se descrever...

Pois bem, marcaram de se encontrar no shopping, ela estaria com um vestido preto e ele com uma camisa do curintcha (vergonha alheia!). Ele a viu primeiro. Olha a conversa que tivemos:

- Cheguei lá e já vi ela! Linda! Exatamente como ela tinha se descrito! Uma maravilha! Ele falou.
- E ai você foi lá falar com ela, como foi? Perguntei.
- Eu não fui falar com ela não cara! Ela era muito linda, vim embora e a bloqueei e não respondi mais os e-mails dela. Ele disse.
- Como assim cara? Quer dizer que ela era exatamente como havia se descrito, linda, e você foi embora? Por que foi embora? Retruquei abismado.
- Exatamente por isso, ela era igual havia me falado, e eu não! Respondeu resignado.

Triste não?
Lições do dia: A sinceridade pode não nos ajudar a ficar com as mais bonitas, mas, pelo menos, pelos motivos certos! E encontro às escuras sempre rende ótimas histórias, qual será a sua?!

terça-feira, 19 de outubro de 2010

Muleques e a felicidade...

Hoje o dia foi dá hora!

Pelas conta, acho que cada um levatô uns 10 real! Cesinha tá contando ainda, mas tá sorrindo pra caralho!
Num consigo nem esperar pra saber quanto foi e poder ir comer alguma coisa, hoje a tarde foi longa... Resolvi parar com a cola, e ainda num sei como vou fazer quando os outro usar, mas é que tô querendo comprar um tênis, tamém tô com vontade de ver minha mãe... Será que a grana ajuda em tudo?

Cesinha terminou, deu 57,80!! Estamos em 6, quase 10 mesmo!

Cesinha é o mais velho, já tem 14 anos, e por causo disso ele cuida do dinheiro. A gente consegue dinheiro pedindo, vendendo bala, só as vez a gente toma.
Ai ele junta de todo mundo e depois divide tudo por 2, uma parte ele devolve pra gente, todo mundo ganha o mesmo tanto, a outra parte nois usa pra comer.

Ele diz que é o melhor, o irmão do Cesinha, que andava com a nois, nunca deixava nenhum conto separado pra comida, sempre gastava em cola e pedia pra gente o de comer, ai ele começou a usar crack, nem fome sentia mais...
Até que um dia a gente num viu mais ele na rua, depois um dono de loja falou que um pivete que andava com nois tinha morrido na frente da loja dele... Cesinha sempre lembra do irmão mais novo e da surra que tomou da mãe por não cuidar dele. Tem tanto moleque morrendo assim...

Na outra semana uns guarda-civil chegaram ni nois, o Cesinha falou pra nois correr, mas o Perola ficou com medo e num correu, apanhou demais, só porque tava com 10 conto no bolso e os guarda não acreditaram que era dele, acharam que ele tinha tomado de alguém, roubado... Até parece, quem roubou foi eles, que bateram nele e levaram o dinheiro embora, se a gente num volta e num socorre, ele tinha passado a noite toda machucado na calçada, ninguém liga prum “trombadinha” caído... Ele tem só 9 anos!

O pessoal da igreja às vezes ajuda, mas é zuado ficar no alojamento! Chatice de banho toda hora, horário pra chegar, reza e catecismo... A rua num pede nada pra nois, o que ela qué toma da gente e pronto, é só nois tentar ficar vivo que fica tudo bem.

Mas hoje... Hoje vai ter padaria, pão, tubaína, bolo... nois esquece a corrida pelas ruas com a barriga roncando, esquece os véio oferecendo dinheiro pra gente entrar nos carro deles, esquece a falta da cola, do crack, da maconha... Hoje vai ser só nois na padaria, a única família que nois tem, a única que a gente conhece, os meninos que andam juntos e aprende junto que felicidade é tão raro, que um pão, um bolo e um copo de tubaína podem ser as coisas mais alegres do mundo!

....

Sorte estar lá pra ver... Diante de tantas coisas complicadas, das conversas chatas que temos que ter, das coisas que fingimos entender, do tanto que a gente faz sem nem saber porque, os meninos sentados, rindo, zuando uns aos outros, falando errado, gritando palavrões (é o jeito deles, diria Mano Brown) faz a gente imaginar, mesmo sem ter coragem de saber a resposta: Será que poderia ser tão fácil quanto ficar feliz por comer bolo, pão e tomar tubaína?

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

A Era dos Dentes Tortos

Todos conhecem algum pagode! Mas conhecem de saber a letra e tudo!
A afirmação acima é forte, eu sei, mas é a mais pura e dolorosa (ou não) verdade.
Teve um período histórico no nosso país onde parecia que todas as caixas de som de todos os aparelhos soltavam refrões com “Lê lê lê”e rimas fáceis e bobas que jamais desgrudaram de nossas mentes.
Chamo este período de:  “Era dos Dentes Tortos”!! Pois dentes tortos eram um dos acessórios obrigatórios dos pagodeiros!
Pode perceber, vai lá no You Tube e puxa uns clipes dessa época, além de ver calças com cores que hoje em dia enfeitam (ou seria enfeiam?) os adolescentes coloridos da família Restart, vai ver também coletes sobre camisetas coladas em corpos redondos, e em cada sorriso forçado uns 20 dentes tortos. E parece que quanto mais torto mais o cara sorria.
Esse período histórico, e para mim tenebroso, teve uma duração não muito longa, começou lá pelos idos de 1991, quando alguns grupos ditos “de raiz” saíram dos botecos e foram pras rádios. Mas seu ápice e por isso o início de sua queda foi entre os anos de 1997 e 2000.
Para os mais jovens isso pode até parecer loucura, mas o Gugu tinha um programa de sábado também(!?!?!), que tinha o (in)feliz nome de “Sabadão Sertanejo” que estreou na onda, não menos tenebrosa, das duplas sertanejas. Mas lá com esse nome e tudo, bandas como GeraSamba, Carrapicho e outras coisas tocaram e viram sua fama subir aos píncaros da glória. E foi lá, aos poucos, que os grupos de pagode foram tomando o “poder”sobre as rádios e demais TV’s desse pobre país. 
É preciso fazer algumas considerações históricas. Primeiro, hoje em dia eu não ouço musicas Emos, forrô, samba e outras coisas que não façam parte do meu vasto universo musical, afinal existe a INTERNET! Ela não mais nos obriga a ouvir as rádios, ver os programas de TV, nada disso, ela nos dá liberdade. Tanta que, apesar a onda Emo ser forte, eu só ouvi, até o presente momento, uma única música inteira (Garota Radical do Cine, que gostei!) e sou feliz assim!
Mas amigos, em 1997 não era assim... tínhamos 1 radio rock, também sei que não será fácil de acreditar, mas a 89 era: “89 A RADIO ROCK” e a gente tinha adesivos que ostentávamos orgulhosos em nossos cadernos do colegial! Mas era só essa rádio, quando o pagode tomou conta do país me parece que todas as outras rádios sucumbiram! Apenas este baluarte do Rock ficou incólume! (Não por muito tempo né? RS)
As rádios tocavam, as TV’S passavam, seus vizinhos ouviam durante o churrasco de aniversário da Tia Mariana, sua irmã ouvia, seu irmão ouvia... era um inferno na terra!
Eu, grunge, sujo e tudo mais, conhecia e conheço vários pagodeiros pelo nome, Andrezinho, Salgadinho, Vavá, Rodriguinho, e por ai vai...
Mas o pior é que: Todo mundo conhece pagode! Se alguém começa a cantarolar do meu lado: “Mariana tindô / Mariana calor / Mariana parte minha / Mariana minha flor” imediatamente eu lembro da letra, e mesmo entre os dentes sou capaz de cantar!
Ou passo por um carro e ele está tocando: “As estrelas lá do céu? / Eu vou buscaaaar / Beijos com sabor de mel? / Eu vou ti dar...” e lembro até da coreografia, porque sim amigos, tínhamos coreografias!
Quem não lembra dos caras do Katinguelê , 6 caras com óculos escuros na testa, dançando no palco do Sabadão Sertanejo enquanto Salgadinho cantava:  “Inará é minha deusa e me faz um bem / Não troca a minha amada Inará por ninguém / Inara, Inara, Inara iiiiii”

domingo, 10 de outubro de 2010

A pior história que já escrevi...

Maria (sem sobrenome) e Antônia Vasconcelos, ambas 15 anos, ambas aflorando os hormônios, ambas namorando e, pela idade, cometendo todos os erros.

Maria mora longe, talvez o ultimo bairro da cidade, nem sempre o postinho tem camisinha, e nem sempre tendo camisinha ela lembra de pedir pra ele usar.
Antônia Vasconcelos mora perto, poderia ir a pé em shopping's e restaurantes, mas ela tem motorista, e andar a pé só mesmo dentro desses lugares. Ela tem acesso a tudo, e nem sempre usa camisinha, afinal, ela pode tudo.

Maria fica com medo, 1 semana inteira de atraso, vai ao postinho e faz o teste. Não sabe como contar a mãe, que foi mãe aos 16 anos. Mas conta, apanha, choram juntas... sua mãe decide que sua filha não passará pelo mesmo que ela passou...
Antônia faz teste toda semana, a empregada compra os teste na farmácia pra ela, morre de medo de ficar grávida. Sua mãe não chora, fria, olha sua filha e lhe joga na cara: Vagabunda! Diz que jamais filha sua terá filho antes de casar...

Mãe de Maria, envergonhada, pergunta as vizinhas se sabem como pode resolver este problema... uma sugere à menina enfiar uma agulha de trico até sentir o sangue, outra comenta da Dona Cota, benzedeira que mora perto do córrego, ela vai lá...
Mãe de Antônia pega o telefone, liga pra clinica onde fez o tratamento para ter a Antônia, uma das mais caras e conceituadas da cidade. Prontamente atendida por seu médico, diz a ele: “Estou com um problema sério com minha filha... ela fez besteira.” Ele nada pergunta, marca para as 19hs a consulta e ainda diz: “Neste horário não teremos mais ninguém aqui na clinica. Melhor evitarmos perguntas.” Ele já fez bastante isso.

A casa de Dona Cota tem 9 gatos, 3 cachorros e parece que tem outros animais, tamanha é a sujeira que a senhorinha de 83 anos acumula e já não tem forças pra limpar. Maria brinca com o gato, por momentos esquece o porque de estar ali...
A clinica é mais que limpa, e mesmo a noite com a maior parte das luzes apagadas as coisas brilham. Dessa vez o motorista não foi, o caminho foi em silêncio, mãe e filha com o pensamento distante. Antônia a imaginar se sua mãe voltará a olhar pra ela sem ser com esse olhar de reprovação. Sua mãe segurando o choro, fazendo esse esforço para não ter que contar que já passou por isso... O médico as recepciona na garagem, vão até seu consultório sem trocar palavra, lá pede que as duas sentem, e espera, ansioso, ouvir a história. Podemos garantir que essa é a parte que ele mais gosta.

Dona Cota não quer saber de histórias, pergunta dos 200 reais, e se podem fazer tudo hoje. A mãe lhe mostra o dinheiro, com lágrimas nos olhos imaginando o mês que terão pela frente sem esses 200 reais. A menina está anestesiada, chorou tanto essa noite que acha que nunca mais terá forças pra chorar. Dona Cota a manda deitar. “Tira as carça menina. E fica queitinha que eu faço rapidinho.” Ao contrário do que pensava, Maria ainda tem forças pra chorar sim...
Antônia não tem tempo de falar nada, sua mãe a atropela, conta das saídas a noite da menina, que ela, agora se sentindo culpada, fingia não ver, conta como esses adolescentes são desgraçados, o quanto de vergonha que está sentindo. O médico pede calma, diz que isso é normal, abre sua gaveta e pega uma agenda. A cirurgia está marcada para sexta, assim ela fica o fim de semana em casa repousando e na segunda já volta a escola. Ele frisa bem: “Ninguém vai ficar sabendo de nada...” Na recepção passam o cartão de crédito: R$ 3.750,00...

Não foi tão rápido quanto Dona Cota supunha, e doía muito na menina quando ela introduzia em sua vagina uma peça de ferro que ela chamava de “salva meninas”. Era fria essa peça, e se Dona Cota nem a mão lavou, não deve ter lavado isso. Doía demais, ela esperneava, sua mãe segura em sua mão, enquanto rezava baixinho... Fingia não lembrar que o padre reprovaria tudo aquilo. Agora, era só o futuro dela que importava...
Antônia saiu da escola, esperava encontrar sua mãe quando abriu a porta do carro e não tinha ninguém. A entrada na clínica foi pelos fundos, o doutor a esperava, já sabia que viria sozinha. A acalmou: “Querida, vai acordar pra ver Malhação no quarto!” Sobem o elevador, ela finge não ouvir, mas ouve as enfermeiras comentando de sua carinha de santa, de sua pouca idade, também finge não sentir os olhares de reprovação... Anestesia geral, cirurgia limpinha, o doutor pensa “é como fazer uma cessaria”... e as coisas acontecem.

Um grito! Assim Maria dá o sinal de que Dona Cota finalmente acertou. O pedaço de papel imundo que ficava na boca da menina não foi suficiente para conter seu grito e seu choro... seu bebê escorre por suas pernas, não sabe se chora por ele ou por si... A mão de Maria ajuda ela a se limpar e se vestir, Dona Cota sugere ir logo a um posto pra o médico receitar remédios, evitar inflamação e “essas frescuras de meninas novas...”
Antônia acorda, primeira coisa que faz é passar a mão sobre a barriga, morria de medo de ficar com cicatriz... Liga a TV e passa Malhação, no celular 4 chamadas não atendidas, 2 de seu “namorado”, 1 de uma amiga e 1 da mãe... sinceramente ela não sabe qual retornar... deita a cabeça no travesseiro, e chora imaginando se menino ou menina...

No posto o médico reprova a atitude da menina e de sua mãe, mas nem sente coragem de repreende-las, as duas choram tanto e ele percebe, por suas roupas e por onde moram, que mais uma criança ia tornar a vida impossível, receita alguns medicamentos, mas tem certeza que a menina corre o sério risco de ficar estéril...
A mãe liga novamente, ela atende espera um pouco de amor, a mãe diz que em 15 minutos estará lá para buscá-la, prefere esperar mais um pouco para que a clinica esteja vazia. Chega, vê a filha, os olhos vermelhos, semi-viva na cama, lembra de como ficou, se segura, vira para sua filha e diz: “Aqui estão suas malas, vamos pra casa de Bertioga. Vai ficar sem celular, não vai contar a ninguém o que houve!” Antônia não para de chorar...

Só uma delas ficou estéril, só uma dela sentiu dor, só uma delas sentiu o amor de sua mãe... nenhuma delas teve a vida normal depois, nenhuma delas esqueceu... Será mesmo que nenhuma delas precisava passar por isso? Será mesmo que ao proibir ajudamos a não acontecer histórias como essas? Por que só uma teve o direito a não sentir dor, além da dor que já sentia?

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Coisa Chata é Perder!

Tem poucas coisas mais chatas que perder alguma coisa!
Talvez coisas que envolvam dor, ou doenças ou fofoca... Mas dos problemas menores, perder alguma coisa é dos mais chatos.
Às vezes a gente tem a impressão que perder alguma coisa é uma traição, porque num primeiro momento a gente quer não acreditar, continuamos batendo as mãos no bolso, virando eles do avesso, fazendo e refazendo o caminho... Até que admitimos para nós mesmo, em tom de derrota: Perdi.
Como na traição, depois da fase da negação tem a fase da raiva! Ai a gente consegue ter raiva da merda do negocio que a gente perdeu! Tipo: “Chave filha da puta!” e chutamos o ar! Começamos a querer achar culpados... “Mas também, a Papaiz faz as porras das chaves tudo pequeninha!”
Mas não adianta... Perdeu! Ai vem a conformação, começamos a pensar que tudo bem, aquele chaveiro tava velho mesmo, tava na hora de pegar uma cópia nova... Enfim, podemos até ter boas lembranças: “Nossa, aquele chave era demais! Colocava na porta, virava e pronto... porta aberta! Uma beleza! Você tinha que ver rapaz!”
 Mas antes de chegarmos a isso, antes até mesmo da fase da raiva, durante a fase da negação, normalmente, as pessoas tentam nos ajudar, e isso amigos, além de não ajudar ainda dá uma raiva!
Porque, e vocês sabem que isso acontece, sempre tem aquele, que ao te ver procurando algo,ajoelhado no chão, praticamente com a cara encostada no piso, pergunta: “Perdeu alguma coisa?” E se ele já começa assim, imagina o que virá pela frente!
Depois quando você se levanta, respira, e diz que perdeu a chave ele faz a pior das perguntas do mundo: “Já olhou no bolso?” Como assim?!?!?! Quer dizer então que eu sou tão burro que ao querer abrir a porta da casa ao invés de pegar ela no bolso ou fui ver se tava no chão?!?! Não é possível!
E, pra piorar, muitas vezes eles fazem comentários do tipo: “Tem gente que procura os óculos e ta no rosto...” ou “Uma vez tava louco atrás de uma chave de fenda e tava na minha mão, acredita rapaz?” A vontade é de dizer que acredito, afinal não podemos duvidar nunca da cretinice alheia, tanto quanto não podemos duvidar da nossa!
Ainda tem aqueles que, na ânsia de lhe ajudar, vão consultando as pessoas em volta pra ver se elas viram a tal chave, mas o faz assim: “Oi, é que o meu amigo ali é meio distraído, quer dizer bastante, e perdeu a chave dele... você acredita? Perder aqui, ainda não sei porque ele tirou ela do bolso né? Eu mesmo...” e por ai vai, lhe expondo ao ridículo.
Fora aqueles, e talvez sejam até os piores, que te ajudam a procurar, sem dizer palavra alguma, mas você sente o quanto eles estão de achando um burro, às vezes olham pra ti, e quase lhes escapa o sorriso pelo canto da boca...
Mas o pior de tudo é que, independente da pergunta, independente da ajuda, independente de tudo, você foi o tonto que perdeu, e nem reclamar você não pode, mesmo ao perguntarem pra você senão esta no bolso você sinta vontade de trucidar a pessoa, você tem que olhar em seus olhos e dizer: “Não, já olhei...” e o foda é que a pessoa ainda pode dizer: “Tem certeza?”...
Mas tem o lado bom! Nunca marquei um gol num estádio cheio, nunca acertei um ace em Roland Garros, mas quando a gente acha algo que procurávamos, tenho quase certeza que a sensação é a mesma! Dá vontade de virar praquele que te fez as perguntas mais óbvias e gritar bem na cara dele: “Chuuuuuuuuuupa!!”
Este é dedicado ao meu grande (quase 2 metros) amigo Hugo! Que domingo perdeu a chave do carro e ouviu todas essas perguntas, e mais, o chaveiro que chamamos lhe perguntou umas 5 vezes se ele num tinha trancado a chave no porto-mala, ele disse, em todas as vezes em tom educado, que nem tinha aberto o porta-malas...
Depois que o chaveiro abriu a porta do carro, a segunda coisa que ele fez foi abrir o porta-malas, e ao ver que a chave não estava lá simplesmente falou: “É mesmo...”
Ah... Qual desses personagens eu fui? O que não fala nada, mas você sabe o que está pensando!

sábado, 2 de outubro de 2010

Então você não gosta de Futebol?

Você não gosta de futebol, então não tem que ficar vendo programas de quinta categoria que passam na hora do almoço e nos domingos a noite.
Você não sente necessidade de acordar cedo no domingo pra ver West Han X Blackburn.
Já que não gosta de futebol não precisa perder 2 horas do domingo vendo 22 caras que não te conhecem correndo atrás da bola, você pode, por exemplo, ao invés disso... É... Cochilar! Ou ir num shopping... Enfim, não tem essa necessidade de ficar preso a TV pra ver o alienante futebol. Que sorte!
Sabe aquele jogo de merda que passa sábado de manhã na Rede Vida que é da segunda divisão do campeonato paulista? Não sabe né? Pois é, quem gosta de futebol sabe e vê esse medonho jogo, e o pior: gosta demais!
Que sorte que tem, nem faz idéia de como é triste ver seu time perdendo, de como é triste acreditar até o final e o gol não sair, ou como é triste tomar um gol aos 45 minutos do segundo tempo e perder... Tristeza que não tem nem razão de ser e nem de não ser, e não tem tamanho... Ok, você nem pode entender.
Assim como não é capaz de enxergar a beleza do jogo, às vezes por pior que seja West Han X Blackburn, mesmo sendo1 a 0, mesmo com o estádio vazio, mesmo com tudo isso o jogo tem uma história, e normalmente ela é linda.
Um time que começa melhor, o outro equilibra você vê que o gol pode acontecer, mas não acontece... E ai, quando já tem torcedor indo embora, pode acontecer de um zagueiro errar uma saída de bola e um jogo que ia pra um empate se transforma em 1 a 0 numa falha individual...
Somos capazes de entender a dor daquele cara, a milhares de quilômetros, falando outra língua, outra cultura... Naquela hora em que ele abaixa a cabeça, depois de tomar o gol, vem um companheiro de time e lhe dá um tapinha nas costas, outro pode reclamar com ele, mas eu o entendo. Sei que ali está em jogo seu ganha pão, que aquele erro vai passar várias vezes na TV, que ele vai no supermercado no dia seguinte e o atendente vai reclamar com ele, se você gostasse de futebol ia querer consolá-lo, mas você não!
Você, que não gosta de futebol, não é capaz de entender a vibração do outro time! Mesmo que tenha sido um gol fortuito, mesmo que estivessem todos jogando mal, a alegria é contagiante. Lateral e volante, que podem ter acabo de bater boca, se desculpam num abraço, o técnico, que devia até ter xingado o atacante que foi pressionar o zagueiro corre pela linha lateral com os braços abertos e no meio do abraço se desculpa num singelo: “Obrigado!” E o jogo segue... Aliás, essa é uma das belezas, 1 a 0, 5 a 0, o jogo sempre segue.
Já que não gosta de futebol, aposto que nunca sonhou em ser jogador, aposto que nunca gritou o nome do goleiro do seu time quando fez uma “grande” defesa numa quadra qualquer de um bairro qualquer, ou nunca gritou, sozinho, “Goooool”, quando venceu aquele goleiro ótimo (que na verdade é o seu amigo Zé de 1 metro e sessenta), e além de gritar sozinho é capaz de correr até o alambrado atrás do gol e se pendurar e se balançar como se fosse o Ronaldo! Admito, nos que amamos futebol somos ridículos!
Assim como somos ridículos chorando no estádio depois da desclassificação do nosso time, como somos ridículos mal-humorados na quinta-feira depois de sair da libertadores, ou na segunda depois de perder um clássico, somos ridículos batendo boca entre uma aula e outra sobre se o nosso time é ou não tão bom assim, somos ridículos xingando aquele comentarista que sempre pega no pé do nosso time e sempre enxerga errado o jogo, ficando puto porque a imprensa sempre pega no pé do nosso time! Somos ridículos. Veja só, você que não gosta de futebol, saiba que tudo isso que escrevi serve pra qualquer torcedor, porque apesar de dizer-nos todos diferentes e irreconciliáveis, somos todos iguais, ridículos em nossas ridículas paixões.
Mas você... Você não gosta de futebol!