terça-feira, 28 de setembro de 2010

Numa Noite Qualquer...

É a porta suja de mais um cinema fechado, e é lá que ela esta esperando por algo que a faça correr dali sem pensar.
Lá tem papéis velhos, revistas velhas de ofertas do WallMart, papel higiênico sujo, camisinhas usadas, sujeira e mais sujeira, lá tem tudo que ninguém quer mais...
E ela está no meio disso de tudo, sorrindo com dentes amarelados, sorrisos falsos de uma falsa alegria convidativa, fumando cigarros contados, comprados por unidade em algum bar fétido do caminho e com suas roupas baratas de couro de plástico, que lhe exibem as pernas já cansadas e com decotes que denotam os seios já caídos...
Ela com certeza já esteve em lugares melhores, já pode usar roupas melhores e fumar cigarros sem se preocupar em quantos ainda tem na bolsa. Com certeza ela já pode se sentar em confortáveis sofás enquanto distribuía seus sorrisos aos “clientes”, ela já deve ter tido seu momento de glória tendo seu nome chamado para dançar a “pole dance” enquanto todos os homens aplaudiam e babavam por ela...
Ao invés de cigarros de maconha divididos com várias como ela, e garrafas de pinga baratas, ela usava cocaína, cheirava no banheiro pra poder encarar sem medo àquele cliente mais porco que tinha mais grana... 

...

Mas tudo isso é passado, e ela retorna pra realidade quando mais um carro passa e buzina e ela não é uma das chamadas... Quase todos procuram travestis, e esse prazer ela nunca pensou que acharia ruim não poder dar...
Ela vê os senhores casados, que ficaram até tarde a trabalhar, eles saem dos bares, cambaleantes, e ela sabe que eles cruzaram a rua para não passar perto dela, nem mesmo seus galanteios eles querem ouvir... Ela se sente uma coisa, um poste, uma parede, onde todos passam os olhos, mas ninguém vê...
De longe vê a porta do Hotel Marrakéxi, e vê outra amiga entrando com “cliente”, e ela tem inveja, ela que sempre sentiu nojo de “clientes” de rua, agora sente inveja da amiga que vai ganhar no mínimo 30 conto, pois se fosse só oral, que é 10 conto, não precisava subir pra um quarto...
Às vezes ela tem vontade de mandar tudo à merda, mandar à merda o cafetão que diz a proteger e bate nela quase todos os dias por não arrumar clientes, mandar à merda a dona daquela pensão suja, que foi assim como ela é e agora a olha como se fosse santa, tem vontade de mandar à merda o que lhe resta de dignidade e sair nua pela rua, não correndo e chorando, mas calma, se exibindo a todos os passantes...
Mas ela num faz nada disso, na real o que ela deseja ardentemente é um abraço, e pode ser de um maldito “cliente” sujo mesmo, que vai querer desconto na hora de pagar e dizer depois que ela num era tão gostosa quanto ele pensava...
Mesmo assim ela quer um homem, e suplica com o olhar pelo menos um sorriso daquele jovem que passa a pé com a mochila nas costas, e ele sorri de volta, faz um gesto pra ela como que perguntando se ela não está com frio... Ela não resisti, diz que tem muito fogo pra esquentar os dois... Ele sorri mais uma vez, bate a mão no relógio indicando que está sem tempo, e vai embora pegar o ônibus...
Ela não... Ela fica, são ainda 23hs e a noite de quinta-feira é uma criança pra ela, criança que ela carrega pela mão, arrasta pelos becos mais escuros e sujos de qualquer cidade, ela imagina essa criança e lembra os 4 abortos que já fez... Uma lágrima ameaça correr de seu olho, e ela sorri percebendo que ainda tem lágrimas e pena de si mesma pra chorar...
Mas tudo pára, um carro chega, negocia, ela entra... Tudo que ela quer é um abraço, mesmo que não sincero, e poder dormir em paz, pois amanhã vai ter grana pro cafetão...

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Deu Merda!

Tinha acabado de almoçar, estava, como sempre depois do almoço, fingindo que trabalhava enquanto o corpo voltava ao ritmo normal, e, como de praxe, comecei a sentir vontade de ir ao banheiro... o numero 2 chamava.

Levantei sorridente, avisei pro cara que trabalha ao meu lado que ia demorar um pouco, peguei o celular, pra poder jogar o jogo da cobrinha, e me encaminhei ao lugar que seria minha morada pelos próximos 30 minutos. Tempo exato para que eu pudesse chegar, disposto e pimpão, na reunião de logo mais com os investidores.

O banheiro estava vazio, o que, pelo horário, nem era tão comum assim. Pensei: “melhor assim!”. Sem ninguém pra puxar papo ou me deixar envergonhado por algum som estranho.

Escolhi o box de sempre, o que estou acostumado. Entrei, fechei a porta lentamente, quando virei-me para o vazo ele estava com a tampa abaixada, isso, como todos devem saber, é sinal de mal-agouro, pois sabemos que, em banheiro masculino, tampa fechada é sinal que alguém não deu a descarga.

Eu, curioso e idiota, resolvi abrir a tampa antes de dar a descarga, afinal poderia não ser nada... ledo engano! Era qualquer coisa, menos nada! Grande, ameaçador... com certeza o cara que o “pariu” deve ter lhe dado um nome! Se estivéssemos num hospital o “presente na privada” teria uma pulseirinha com seu nome.
Pois bem, depois de me enojar com aquilo, lembrando que tinha acabado de comer, apertei a descarga... fim né?

Não! A descarga não funcionou, ai percebi que na verdade o rapaz que fez “aquilo” não era mal-educado, simplesmente a privada estava quebrada. Resolvi, insistente e idiota como sou, tentar novamente... ai ela fez um barulho estranho e a água começou a descer... fim?

Não novamente! Não sei se pelo tamanho ou pelo tempo que “aquilo” estava ali, mas a verdade é que ele não descia, porém a força da água era muita, e ia soltando pequenos pedaços dele... para parar de ter essa visão dantesca, eu fechei de volta a tampa e deixa a água seguir seu curso...

Depois de alguns instantes, meio sem saber se começava a jogar no celular ou não, me toquei que a água ainda não tinha parado e tomei a que seria a pior da decisão da minha vida: reabri a tampa!
A água, agora amarronzada, estava quase transbordando a privada e não parava de descer mais água, meu sapato ficar molhado era questão de tempo, e de pouco tempo!

Tomei então uma decisão covarde, mas certa: fugir! Guardei o celular no bolso (admito: já estava jogando) me virei pra porta, já com um leve sorriso pois escaparia incólume... mas meu plano foi frustrado!
A porta (maldita seja) não abria, entrei em desespero, imaginei o banheiro todo tomado daquela água fétida e eu me afogando!
Tentei novamente virar aquela alavanquinha (era daquelas que do lado de fora fica a inscrição “OCUPADO” quando está fechada), e tentei de novo, e de novo, até que ela saiu na minha mão! A porta estava, irremediavelmente, fechada!

Tentei manter a calma, enquanto afastava as pernas praquela água não sujar meu sapato (logo na estréia dele!)... agora o banheiro vazio era uma desvantagem. O que deveria fazer? Gritar por ajuda? Tentar subir e pular a porta? E depois? Sair pelo escritório como se nada tivesse acontecido?

Eis que toca o celular: “Alô?” respondi. Do outro lado, Irineu, do almoxarifado: “Cara, tô aqui no estacionamento e o pneu do seu carro tá furado!”. Eu: “Porra Irineu! Agora num tenho como me preocupar com isso não cara, tô preso no banheiro pô! Aliás, tem como me ajudar aqui?” Outra péssima decisão... do outro lado, segundos de silencio foram cortados pela voz, já risonha, do Irineu: “É pra já!” tu tu tu...

Pensei: Estou salvo! Depois pensei: Que merda! Afinal Irineu não viria sozinho! Além de todas as câmeras e celulares com câmeras ele viria, sei lá, com o Globocope ou o Águia da Record! Já estava imaginando o Datena pedindo: “Capitão Amilton, me dá imagem!”

Mantive, novamente, a calma. O que não estava calma era a água que ainda descia, torrencialmente, da privada, a total inundação era certa! Baixei a tampa e, com cuidado, subi na privada, ficando com a cabeça pra cima das paredes do box.

Silêncio! Apenas o som da água misturada com “aquilo” se ouvia, e aquilo me assustava. Afinal, onde está Irineu e o resto do escritório?

Eis que o silêncio é cortado! Risadas, ainda meio presas, são ouvidas, partem do corredor que leva ao banheiro... “Cara, já terminou? Podemos entrar?” era o Irineu... mal terminou a frase e eu ouvi o que parecia ser a risada de todo um teatro! Ele, obviamente, não esperou eu responder, entrou...

Ficou ainda mais enojado que eu! Ele e outros 2 pediram pra eu me afastar, que iam forçar a porta...(além deles tinham mais uns 8 caras e 2 mulheres no banheiro... e eu ainda nem tinha cagado!)
Cansado de ficar no banheiro e humilhado, fiquei esperando... um deles meteu o pé na porta, ela cedeu! Porém, ao bater com o pé na porta ele escorregou e caiu de costas naquela água... eu fiz menção de rir, e teria gargalhado senão tivesse acontecido outro acidente: A tampa da privada cedeu também! Consegui salvar o pé esquerdo, mas o direito...

Sai do box, Irineu estava sentado na pia... ria tanto que parecia que ia ter uma sincope ali mesmo! Lembrei da reunião! “Os investidores!!” Exclamei!

Corri, esbaforido, até a sala de reunião... meu chefe me esperava na porta, ele que tantas vezes ficou puto comigo por conta de atraso me interpelou: “O que aconteceu?” e, como já havia dito muitas vezes pra ele, disse: “Deu merda!” Nunca fui tão verdadeiro ao dar uma desculpa por chegar atrasado... e, diante do cheiro do meu sapato, ele também nunca teve tantos motivos pra acreditar em mim...

Ah e o Irineu? Montou um canal no youtube! O video do cara caindo no chão e eu saindo correndo com a calça até a canela molhada é o mais visto!

terça-feira, 21 de setembro de 2010

Sobre nós e vocês...

Esse negócio de ser homem, em pleno século XXI, está fora de moda...

Hoje em dia podemos nos dividir, seres humanos do sexo masculino, em alguns grupos, vou listá-los dos maiores aos menores: Gays, bi-sexuais, emos, metrossexuais, frescos de várias matizes e heterossexuais. Obviamente que tem ainda mais divisões, mas dá pra se ter um panorama.

Estamos, nós os heteros (e eu faço parte desse grupo, ok?) os poucos que somos indo contra a maré. Homens machões, que arrumam as coisas da casa, como meu pai era e eu estou tentando ser, são cada dia mais raros, e sei não senão é melhor, assim vocês mulheres, que tanto lutaram para nos tirar tudo nesse século passado, vão ver que não era tão mal assim ter alguém por perto que, se por um lado não ouve muito, por outro age bem mais!

Eu acho que nessa troca que vocês estão fazendo estão se dando muito mal... Continuam com os mesmos problemas de antes, e arrumaram um monte de problemas novos, e ainda por cima tem de se manter mais belas e desejadas do que nunca na história da humanidade, e fora isso, hoje em dia ainda tem muitos homens que estão agindo como mulheres de alguns anos atrás, só estão ficando com mulheres que tem carro, grana e afins...

Ao invés de melhorarem suas condições de vida, vocês deterioraram, e ainda nos estragaram, pois agora, muitos de nós não sabem lidar nem um pouco com as novas mulheres. Tem cara que num sabe se liga no dia seguinte, se paga a conta, se abre a porta... Muitas coisas podem ser tomadas como ofensa, é complicado sabe!
E por isso, quem sabe, o numero de homens que gostam de mulheres diminui tanto, muitos estão assustados, correndo de mulheres, quanto mais modernas mais assustam, quanto mais independentes mais pra longe eles correm!

E no fim, nossos hormônios, e o de vocês, estragam tudo... Afinal a super mulher do século XXI, tão independente, tão cheia de si, e, claro, tão sozinha, ainda tem os mesmo hormônios da mulher do século XX, e por isso quer a mesma coisa, ser colocada no colo e que um cara lhe diga o que fazer...

E os nossos, tão confusos, ainda querem que a gente continue tentando ficar com o maior numero de mulheres possível, o que, diante do quadro de medo de muitos de nossos congêneres, nem é tão difícil como era...
Mas ai vem à consciência e, que droga, um homem galinha, com orkut, twitter, facebook e tudo mais, nunca será um homem que passará despercebido.
E enfim, um monte de gente procurando um monte de gente, esbarrando num monte de gente, e não vendo "gente" nenhuma...

Podem até argumentar que não sabemos lidar porque não tentamos, ou porque agora somos inaptos, mas a verdade é que: homens nunca souberam lidar com as mulheres!
Mesmo antes, quando vocês eram mais "dóceis" e nos mandávamos e desmandávamos no mundo ao nosso bel prazer, não sabíamos lidar com vocês, afinal as mulheres não eram plenamente felizes e buscavam sua felicidade em compras, filhos, receitas de bolos, igreja e etc...

Não consigo nem imaginar como meu avô chegou à conclusão, lá pela metade do século XX, que as mulheres não precisam ser entendidas, nos precisamos na verdade é fazê-las felizes... Porque na sua maioria os caras apenas as usavam...

Quando lá pela década de 60 e 70, quando finalmente os homens passaram a entender melhor essa mulher, vocês vieram às ruas e queimaram sutiãs e pediram, pediram não, lutaram por igualdade!

Então vieram os anos 80 e 90, nos não podíamos ter mais barriga, as mulheres passaram a "gostar" de ver homens na TV, e ficamos assustados porque vocês também passaram a ser, não todas é claro, promiscuas... Isso foi uma diferença muito grande, ainda mais pra seres tão "imutáveis" quanto nós homens!

As mulheres evoluíram muito mais que os homens, fato! E nos ficamos atrás, ainda tentando viver no mesmo mundo que vivíamos antes, com as mesmas práticas e tudo mais...

Agora, século XXI, estamos começando a nos acostumar, mas somos cada vez mais um grupo reduzido, e como tal, supervalorizado... Tem uma musica do The Strokes que diz assim: "Um homem não mostra o que tem / E a mulher pensa que isso é muito" e é bem assim, qualquer babaca vira o homem certo, e nos, além de um grupo reduzido, sofremos, muitas vezes, generalizações graças a esses indivíduos...

Mas eu não reclamo, gosto da liberdade que as mulheres tem agora, gosto de ser tratado e de tratar com iguais.

Costumo dizer que não sou nem um pouco machista, talvez seja um pouco machão, com minha vontade de impor minha vontade, mas talvez isso seja mais um ponto ao meu favor do que contra, pois não são muitos os caras que podem dizer isso que disse...
Acredito que nem tanto ao céu e nem tanto ao mar... O equilíbrio deve marcar as relações, afinal, como disse no parágrafo acima, tratamos agora com iguais, e vai ser sempre assim...

Mas, e sempre tem um mas, os hormônios tem muito mais força sobre as mulheres, e por isso vocês continuaram sendo um alvo fácil.

sábado, 18 de setembro de 2010

Vai dar Tudo Errado!

Era um jovem casal na praça de alimentação, fazendo, obviamente, o que jovens casais fazem... Beijinhos, risinhos e outras coisinhas que irritam quem não faz parte de jovens casais!

Eu já tinha comido, e fiquei observando os dois... Andaram de lanchonete em lanchonete procurando alguma que tivesse algo que os dois gostassem, ainda não aprenderam que podem comer em lugares diferentes...

Ele talvez tivesse 14 anos, e ela, parecia ter 15... Mas talvez tivesse 14 também, as meninas crescem mais rápidas em tudo.

Olhei sorrindo pra eles alguns momentos, já vi tantos jovens casais que logo meu interesse passou... Mas foi quando eu não os olhei mais e os vi indo embora, com milk's shakes na mão, que me deu, de súbito, uma vontade de correr até eles, de alertá-los!

Não havia ali, óbvio, perigo eminente, mas me ocorreu que aos 14 ou 15 anos tem um monte de coisas que não sabemos, achei que fosse hora de informá-los que, bom, eles se cansariam um do outro...
Deveria dizer pra ela que ele ficaria curioso em saber como são as outras meninas, que ele vai querer sair com os amigos, que não vai ser sempre tão amável e prestativo quanto é agora, que ele vai brigar com ela por bobagem, que vai, até, quem sabe?, trair ela...

Pensei em correr pra avisar praquele garoto que ela vai ter dias de cão, em que até o jeito que ele disser “oi amor” vai ser motivo de brigas! Que ela vai crescer e se tornar, sempre e sempre, mais séria que ele, que vai querer ele mude, que não vai aceitar seus amigos, que vai sempre fazer muito mais perguntas que ele...

Quase me levantei da mesa pra dizer pra eles que, embora agora pareça eterno e maravilhoso, eles ainda teriam outros relacionamentos e provavelmente sentiriam raiva um do outro em breve, quis falar que os sonhos que eles tem, de viagens, morar fora, fazer intercâmbio é quase impossível de ser fazer a dois, e que conforme vamos ficando velhos vamos trocando nossos sonhos por conquistas mais palpáveis, como carro novo, apartamento... E a viagem de Lua de Mel pra Papua Nova Guiné? Trocará por um conjunto “quarto e sala” novo...

Daí levantei, achei que era obrigação minha falar! Eles não deveriam sentir as decepções que senti, não deveriam sofrer como eu sofri, achando que nunca mais seria feliz! Era minha obrigação pô!

Andei na direção deles... e no caminho pensei: Que idiota eu sou!

Não falei com eles, claro! O que poderia falar? Que vai dar tudo errado?